quarta-feira, 25 de março de 2009

Hm. Parece que o yoga é algo sobre o qual não vale muito a pena falar. Os sentimentos, as emoções e a mudança nao são óbvios nem de contornos muito definidos. Acho que tive uma certa altura da minha vida, em que queria era não sentir muito. É relativamente confortável, e menos cansativo. Queria apenas não ter que lidar com o mundo à minha volta, e fazer os esforços que me permitissem estar bem sozinha, e em relação a tudo o resto criar distância. E o yoga pareceu-me que ajudaria nisso. No início, talvez possa ser assim. É mais fácil praticar yoga como quem toma um remédio. E eu sempre senti que precisava muito de remédios. Mas um remédio só apaga os sintomas. E pelos vistos o yoga não. No início, quando comecei a praticar (aliás mesmo antes, quando comecei as aulas), senti isso, é algo que dá uma certa sensação de controlo quando tudo o resto parece incontrolável. Como se isso permitisse ganhar uma certa distância em relação ao que nos magoa e nos desagrada. Mas sei agora que a distância não é anestesia, e que o desapego não é o desinteresse ou a apatia. Ultimamente, sinto que muita coisa me incomoda, que muito me magoa e me custa, e apetece-me chorar e tenho pesadelos e pensamentos desagradáveis. Tenho uma ansiedade que sinto que me está a deixar exausta. Mas não foi o remédio que deixou de funcionar. O mundo é o que é, as pessoas estão à minha volta e existem, eu estou viva e tenho que viver, não estou numa bolha. Sinto o que sinto, não o posso apagar, por mais que queira. E não posso simplesmente esperar remédios, praticar não é um remédio, não é uma pastilha que demora um tempo definido a ser tomado e depois durante o resto do dia se esquece que se tomou, tenho é que tomar decisões e tenho que conscientemente fazer mudanças para lidar com tudo o que sinto. Suponho que a prática me possa ajudar a tomar decisões sensatas e a compreender melhor porque sinto o que sinto.. Eu sei que realmente não deve haver melhor que isso, é melhor que qualquer remédio, mas, sinto-me sempre com um pé à frente eoutro atrás. Sempre tive uma tendência para quase fazer de propósito para falhar nas coisas. Lá, está, é quase como se fosse mais fácil viver a vida a "remediar", por mais deprimente que possa ser. Querer mesmo algo, odiar mesmo algo, escolher mesmo, isso é difícil. É uma verdade que sinto que sempre soube, mas que sei que assusta. Sinto que mudo, mas não mudo. Só regresso a algo. E se isso acontece não é porque estou errada, por "sou" errada, por mais que o mundo à volta, ao longo da minha vida, me tenha feito sentir isso. Não tenho que negar nada em mim, só o que me faz sentir presa e fraca. Não sei o que será, o que vai acontecer, mas também ninguém me vai dizer. Se me sinto um caos, é porque se calhar me devo sentir um caos. Espero é que seja cada vez mais um caos consciente.